sexta-feira, 17 de outubro de 2014

Pistola Browning 975

Armas.

Nunca gostei de armas. Nem quando era criança brincando de bandido e mocinho. A gente inventava formas de brincar sem ter us filhos e meus netos. São dois momentos da minha vida bem distintos.

Primeira história. Na infância.

Eu devia ter uns 10 anos. Eu tinha meu próprio quarto onde eram guardadas todas as "coisas" que não eram, digamos assim, usadas no dia a dia... Roupas de uso eventual como o "Summer" e o "Smoking" do meu pai, documentos sem muito valor, um baralho com mulheres peladas, que tenho até hoje, bugigangas diversas, e outras coisas que eu achava divertidas mas que não cabiam em nenhum outro cômodo da casa. Um dia, fuçando nos armários do meu quarto, eram dois, como eu fazia sempre, desbravando a prateleira de cima onde eu nunca tinha chegado, me deparei com um embrulho diferente. Sem imaginar o que era e não querendo abrir sem autorização fui chamar meu pai. O Dr. Mattoso, como era carinhosamente chamado por todos, e com sua habitual calma e fleuma britânica, chegou, sentou, abriu o pacote e me disse: "- Filho (enquanto abria o pacote) isto é uma arma, quer dizer, uma pistola "Browning" e uma caixa de munição. Eu já a tenho faz muito tempo, mas nunca a usei. Eu a deixei guardada num lugar seguro para que ninguém a achasse e assim deveria ficar. Nunca mexa nela sem saber como usá-la." E, depois disso, obedecendo a meu pai como sempre, nunca mais mexi no pacote que voltou para o mesmo lugar no armário. Meu pai faleceu em 1981. Minha mãe faleceu em 1990. Antes de minha irmã ir morar no apartamento dos meus pais eu fui ao mesmo armário e, depois de tantos anos, retirei o pacote com a arma do armário e levei para Curitiba onde morava na época. Coloquei a pistola em meu nome, tirei porte de arma e levei para um armeiro para ver se ainda funcionava, e funcionava, e tive vontade de dar uns tiros com ela, mas não tive coragem ou respeito, não sei. Voltei a guardar a pistola em um lugar seguro em minha casa. E quando a Betina, minha segunda esposa, foi fazer um curso de tiro como preparação para a sua carreira de vigilante, eu dei a pistola para ela. Só para registro, ela foi a melhor atiradora da turma naquele curso. Não sei o que ela fez com a pistola e nem quero saber...

Segunda história. Já casado em primeiras núpcias.

Passávamos sempre as férias no interior. Mais precisamente em Braúna, interior de São Paulo, terra dos parentes de minha mulher na época, Heloísa. Um dia, fomos à fazenda de um amigo do tio Osvaldo (Tio "Pote" para meus filhos), e eles resolveram fazer uma sessão de tiros com várias armas... Eu me excitei, me empolguei, seria a primeira vez, mas tinha aquelas lembranças de infância do meu pai falando: "Nunca mexa nela sem saber como usá-la." Mas eu topei. Começamos com o revólver. Dei uns três tiros numas latas e não acertei nada... Eles também não acertaram nada para meu alívio... Aí, foi a vez de usar as espingardas. Eu nunca tinha pegado uma espingarda antes, mas dei uma de macho. Disse: "- Me empresta essa espingarda." Mirei numa árvore bem longe e falei: "- Estão vendo aquela frutinha bem no alto da árvore? Vou acertar nela..." Mirei, não sei como, mas acertei em cheio. O tio Osvaldo e seu amigo ficaram pasmos olhando pra mim e não sei o que pensaram, mas não me gozaram mais... Acho que virei herói por alguns minutos... e foi muito bom... hehehe

Ah, tem uma terceira história. Eu, quando adolescente, achei, no meu quarto, uma garrucha velha de dois canos que tem uma história também. Como era uma arma velha, meu pai contou como aquela tralha estava ali. Disse ele que uma vez frequentava um "night club" chamado "Século XX", que ficava no último andar do Edifício Martinelli, no centro de São Paulo. E que, durante uma briga, ele tirou a arma de um dos briguentos e ficou com ela. Nunca disse o porquê. Mas trouxe a arma para casa, e eu a achei... hehehe Essa garrucha ficou comigo vários anos até que veio a lei do desarmamento. Para colaborar com a lei eu a entreguei e recebi R$ 100,00 por isso. Eu tenho várias armas em casa, mas nenhuma de fogo. E nunca vou ter. E queria que os bandidos também não tivessem. Tenho coleção de facas, de canivetes, de tesouras, só para mostrar. Mas nenhuma arma de fogo. Esta é a minha história com armas de fogo.